ORALIDADES, MULTILINGUISMOS E LETRAMENTOS POLÍTICOS: DIÁLOGOS COM A EDUCAÇÃO
CNPq (Processo 423561/2021-9, Universal)
Vigência: 23/02/2022 a 28/02/2025
CONTEXTO DA PESQUISA: OLHARES TEÓRICOS
Este projeto de extensão propõe um diálogo entre as políticas linguísticas e a esfera educacional no que tange três elementos interligados: os conceitos de língua e oralidade, as propostas de educação multilingue e os letramentos políticos. Buscamos uma abordagem sensível às realidades locais, criando, em parceria com os sujeitos interessados, projetos que reconheçam a pluralidade linguística, a partir da perspectiva local em diálogo com discursos e práticas institucionalizados. Reconhecemos o papel que a educação escolar desempenha na legitimação institucional de uma língua, daí a importância da escola reconhecer a diversidade a partir dos interesses e visões locais. Contudo, defendemos que o problema da legitimidade deve ser visto não apenas a partir dos discursos e práticas institucionalizados – Estado, escola, universidades –, mas também daquilo que as comunidades reconhecem como sendo legítimo (SEVERO, 2020).
Em termos de políticas educacionais internacionais e transnacionais, podemos mencionar os discursos e orientações da UNESCO, que defende os direitos linguísticos como uma das principais bandeiras de grupos minoritários, com o reconhecimento e validação educacional de suas línguas. Acordos internacionais têm orientado tanto o uso de línguas de grupos indígenas e minoritários, como de imigrantes e refugiados, a exemplo de: Declaração dos direitos das pessoas pertencentes a minorias nacionais, étnicas, religiosas ou linguísticas (1992); Convenção e recomendação contra a discriminação na educação (1960); e Convenção Internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e de membros de suas famílias (1990). De forma geral, esses documentos apontam para a importância do uso escolar das línguas maternas das crianças no processo educacional, com vistas a sua inclusão e efetiva participação. A educação multilingue ou bilíngue postulada pela UNESCO, em atenção à realidade plural de várias sociedades, reconhece, promove e valoriza o uso de duas ou mais línguas como meios de instrução (SEVERO, 2020). Buscamos, neste projeto, criar espaços de debate sobre conceitos de língua, oralidade e educação multilíngue, em prol de uma visão comprometida com as práticas e repertório linguísticos dos sujeitos e das comunidades. Exemplo desse conceito são os multilinguismos do sul (southern multilingualisms), que levam em conta a perspectiva de sujeitos historicamente marginalizados, pelas vias coloniais ou outros mecanismos de exclusão, sobre suas atividades comunicativas complexas (PENNYCOOK E MAKONI, 2020). Essa perspectiva problematiza, por exemplo, a visão euro-americana presente nas concepções anteriores, expandindo o escopo para se compreender as relações entre urbano e rural, formal e informal, oral e escrito, entre outros, em espaços subalternizados pela história do colonialismo (Sul Global). Neste projeto, buscamos um engajamento com essa abordagem em diálogo com as experiências coloniais e um olhar decolonial.
Neste projeto de extensão, ao aproximar três contextos educacionais – Moçambique, Brasil e Angola – em que o ensino de língua portuguesa é um elemento fortemente orientador de políticas de letramento, buscamos salientar e dar visibilidade às especificidades educacionais em relação: ao conceito e ao tratamento da diversidade linguística na esfera escolar; ao tratamento e conceito de oralidades e ao papel dos letramentos políticos na formação de estudantes e professores. Compreendemos letramentos políticos como formas práticas sociais que operam na constituição de relações de identidade e poder dos sujeitos envolvidos nessas práticas (SILVEIRA, 2020; STREET, 2014; FREIRE, 1987).
JUSTIFICATIVA
No cenário brasileiro, esta proposta dialoga, mais especificamente, com os esforços em torno do reconhecimento de legitimação de heranças africanas e indígenas na formação cultural e linguística brasileira, conforme o Plano Nacional para Implementação de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Ministério da Educação, 2004). Sabemos que esse plano é fruto de uma série de iniciativas anteriores como: Programa de Ação Afirmativa (PAA); Lei 10.639/03, posteriormente alterada para 11.645/08; SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção para Igualdade Racial); SECAD (Secretaria de Educação a Distância, Alfabetização e Diversidade); Estatuto da Igualdade Racial, lei 12.288/10; e o Sistema de Cotas nas Universidades Públicas. Compreendemos esta série de atos jurídico-administrativos como reflexos de uma história de luta dos movimentos negros no Brasil, em prol de reconhecimento das heranças africanas e do legado afro-brasileiro. Este projeto de extensão, ao dialogar com colegas angolanos e moçambicanos, propõe reforçar elos entre estes países no que tange ao compartilhamento de práticas pedagógicas e metodológicas de ensino de línguas, atentando para as heranças africanas na formação afro-brasileira e brasileira.
OBJETIVO GERAL
Estabelecer um diálogo entre as políticas linguísticas e a esfera educacional em contextos períféricos e marginais no Brasil, Moçambique e Angola, enfocando o conceito de oralidade, as porpostas multilingues e os letramentos políticos em Angola, Brasil e Moçambique.
METODOLOGIA
- Diálogos com determinadas comunidades – lideranças, professores, agentes da escola e comunidade – nos 3 países e estabelecer diálogos e aproximações entre eles. Esses diálogos buscam compreender e valorizar as experiências de ensino e aprendizagem de línguas, atentando para a relação com o contexto local, as práticas de linguagem compartilhadas pela comunidade e a relação da esfera escolar com seu entorno.
- Rodas de conversa com representantes das comunidades e com pessoas que têm atuado nas práticas de ensino e aprendizagem de contextos marginais ou periféricos, como comunidades rurais, quilombolas, educação intercultural indígena, educação de populações itinerantes, educação ambiental.
- Revisar as categorias de língua, comunidade, oralidade, ensino e aprendizagem a partir das experiências em conjunto com as comunidades (pesquisação).
- Promover a produção de textos reflexivos sobre essas experiência com vistas a publicação e divulgação das vozes locais em diálogo com a esfera acadêmica.
- Valorizar as práticas de escuta como parte das experiências de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SEVERO, Cristine Gorski. Unesco e a Educação Multilíngue: revisões e problematizações. Travessias Interativas, 2020.
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SILVEIRA, Alexandre. Letramento político: por uma educação linguística democrática. Travessias Interativas, 2020.
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